"(...) -Como eu gosto de você?

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sexta-feira, 24 de junho de 2011

O menino do Pijama Listrado


Quantas vezes, ao ler um livro, já nos deparamos com diálogos ou descrições enfadonhos e intermináveis que pouco ou nada acrescentam à trama? É quando bate aquela vontade irresistível de pularmos as páginas e, até os capítulos - que parecem não levar à lugar algum. Ainda pior, deixar o livro de lado esperando o momento mais "oportuno" para lê-lo. Isto ocorre quando certos "acréscimos" parecem prejudicar a obra desviando o foco central, tornando-a confusa ou sem sentido. Temos em mente que muitos de nós, em algum momento, se viu nessa situação, mesmo que depois tenha adorado o desfecho final. 

Contudo, este NÃO é o caso do livro "O menino do Pijama Listrado". 

Incrivelmente sintética, sem rebuscamentos exagerados, a obra exige do leitor um certo grau de conhecimento histórico para que, a partir deste, a imaginação se encarregue de construir a história e o perfil mental do pequeno Bruno - o explorador -, e de seu grande amigo do outro lado da cerca.  Muito mais do que isso, os recursos usados pelo autor estão dentro do leitor, diretamente relacionados a cada histórico de vida e à própria formação do indivíduo.  O que torna o recurso descomplicado da linguagem -  tão complexo -, são as sutilezas  intrínsecas à narrativa. É, assim, uma obra de "reticências"...
Personagens psicologicamente conflitantes entre si(1), conduzem e são conduzidos a um desfecho que se esperado por alguns, não deixa de causar impacto e nos fazer refletir a respeito do poder construtor (amizade / amor) ou destruidor das crenças humanas (as convenções e os seus fundamentalismos). 
Deste modo, será sempre uma leitura que despertará sentimentos diversos ( Tal como Ilha do Medo e a Bússola de Ouro), e que cujo entendimento (ou não) passará pelo "conteúdo" pré-existente dentro de cada um de nós. As duas crianças resumem toda condição humana que, imposta, enraizada e se manifestando de formas diferentes nas culturas, reconta a eterna marca de nossa animalidade - a contínua luta por território e poder, justificados pela ultrapassada ideia de sobrevivência, submetendo à força, exterminando por meio das armas, da fome, da sede, por meio das palavras que segregam, erguem barreiras, num ciclo interminável de vinganças, onde o perseguido de ontem, torna-se o perseguidor de hoje. Os meninos - como símbolos de uma coisa muito simples - da vida  humana -, sucumbem, tal como tantos outros sucumbem silenciosos, todos os dias, nos campos "abertos" e quase invisíveis do globo...



Notas
(1) Como em qualquer sociedade em mutação e cujo pêndulo social pode se voltar para o lado obscuro dos oportunistas, o que vemos são pessoas corajosas que  enfrentam e "desaparecem" ( Fogem? Morrem? Possibilidades...), as que se mantêm coniventes -  como a mãe do menino - ,que mesmo discordando opta por não se opor; outras que querem os louros diante da oportunidade de saírem da "mediocridade"( pois a concorrência estava, mesmo, sendo liquidada pela força e não pelo talento...)  e se tornarem, dentro de seus padrões, "importantes". Lembrando o extermínio com fundamento em teorias como a do Darwinismo Social, a do Espaço Vital, as Lombrosianas... um amálgama bem (re)elaborado para  convencer que o errado estava certo. O que se buscou mostrar foi que o curso da vida segue a vida, enquanto o curso dos homens opta por caminhos tortuosos para TODOS, inclusive para os "vencedores" do momento. As crianças souberam, enfim, administrar melhor seus sentimentos, suas crenças, superaram as diferenças, fizeram o que a  humanidade deveria fazer. E, como símbolos do que poderia ser o futuro, morreram: tornaram-se sim, símbolos de um grande fracasso... do NOSSO FRACASSO.

Este texto é uma interpretação pessoal. Uma das infinitas "reticências" .

4 comentários:

Felipa Monteverde disse...

Li o livro por acaso, emprestado, embora me recuse a ver o filme. Gostei muito do livro, não cansa e explica tudo sem explicar nada, sabemos o que se passa e comovemos-nos com a ingenuidade das crianças, principalmente de Bruno.
Ótima escolha para recomendação.

Arnoldo Pimentel disse...

Um livro emocionante, parabéns pela postagem.Lindo fim de semana pra você, beijos

Roseli disse...

Ínteressante este livro. Realmente se prestássemos mais atenção nas reticência da vida. Querida tem selinho para você de presente no meu blog. Agradeço todo carinho dedicado nos comentário lá. Muito obrigado tenha um lindo final de semana e beijinhos carinhosos para ti.









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Engenholiterarte disse...

Taís, Bela Flor, Arnoldo, VidasLife, Luciene, Felipa e todos que passam pelo Engenho... muito obrigada pela visita e pelos comentários. Assim que for possível voltarei a visitar a todos. Grata, pela paciência!

Vidaslife - em breve tomarei o meu presente! Vou tentar entrar na sua página ( a minha máquina está travando muito e, se não conseguir, creio que até sexta o meu computador novo já voltou do conserto...espero...). Um abraço para todos!

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