"(...) -Como eu gosto de você?

Eu gosto de você do jeito que você se gosta".

O Mundo no Engenho... e o ENGENHO do Mundo

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um olhar...

 FlorAção, Fênix, 2011


"Quem sabe ler nunca se perde..."


Em breve: O menino do dedo verde...
 
 

Rosa dos tempos - Foto / edição - Fênix, 2011



Rosa-dos-Ventos

Chico Buarque

E do amor gritou-se o escândalo
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão
Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar
 
 

domingo, 25 de setembro de 2011

Saraph ( parte 4)

Recados para Orkut

~*~ Lindos recados animados - ANJOS ~*~


"...na verdade, Elieser, eu não sou nem a morte e nem a vida. eu sou a passagem - sou o portal...
O rapaz impaciente, apertava o ferimento. O suor escorrendo pela face de cera, o sangue,o peito ofegante diante da revelação e seu temor...
_ Não entendo. Não entendo como os anjos não conhecem os escritos dos homens?!
- Os escritos dos homens? (sorriu, um tanto desconsolada) Os anjos...isto é, o que vocês chamam de 'anjos', conhecem a energia criadora de Deus ou, do que vocês nomeiam como 'Deus'. O que parte Dela vamos descobrindo mais tarde, diante do que presenciamos por aqui e, decerto, quase sempre não é aquilo que foi interpretado por vocês 'nos escritos dos homens'. Eu sinto muito: tudo que você pensa que sabe pode não passar de uma ilusão. Mas, não fomos nós que os enganamos. Foram vocês, "homens", no exercício da mais vil arrogância".


 http://www.mixpod.com/playlist/85748905



sábado, 24 de setembro de 2011

Uma palavra ( final)

Estradas. Toques. E Janelas - FC, 2011.


Tininha antecipou o horário de sua ida à escola. Das sequelas do acidente a que menos lhe incomodava era a cicatriz imensa na perna esquerda, então, pôs um short e a deixou a mostra. Poderia querer chocar a seu modo. Vivia com a face fechada e com o olhar de quem está constantemente na defensiva. “Queria viver sozinha e distante de todos” – resmungava consigo. Andou em direção à biblioteca da escola e ali se acomodou. Ficou até dar o sinal de entrada montando a versão definitiva de seu primeiro conto.
Às 18 horas, Renata saiu da agência. Tinha aquele compromisso desagradável de avisar o homem do remédio e das cartas. Ao chegar à recepção, ainda tentou se livrar da incumbência amarga...
- Oi, seu Adamastor! E ai? O homem dos “quintos” deu as caras?
- Interfonei para o dito cujo, dona Renata, ele não atendeu. Costuma fazer isso. Nem me surpreendo. Pedi uma vez para que me avisasse quando saísse, ele gritou um retumbante “quê?”. Me chamou de “bisbilhoteiro”. Por isso, nem ligo. Uma hora o velho desce.
- Minha nossa, que criatura intratável... Ele não tem parentes?
- Quando chegou ao prédio não comentou, não. A gente se acostuma às manias do morador... Ele gosta de uma intriga! Deu muitos espetáculos de lá para cá! Nem pergunto pra não ter motivos dele falar...
- Tá... Vou pros “quintos”! Qual é o apartamento dele?
- No andar é o único ocupado. Os outros três estão vazios. Vai ser fácil porque cuida bem do saguão. É limpo... Tem plantas na porta... Pelo menos isso!
- Estou indo!
De repente, a garota estancou voltando-se para trás...
- O senhor sabe se o zelador descobriu de onde vem aquele “cheirinho” nojento?
- É, Dona Renata, estourou um cano no 404... Não deu pra ele fazer outra coisa...
- Isto significa que ao chegar ao meu andar vou patinar na lama do reboco? ( ...E coçou a cabeça reforçando o deboche...)
- O seu dia foi muito “pesado”, dona Renata?
- Esqueça, seu Adamastor... Já sei a resposta!
Tininha chegaria em uns 20 minutos. Renata pensou em esperá-la, “quem sabe, mal-humorado com mal-humorado pudesse resultar num monólogo ‘relâmpago’ bem sucedido”. Foi tomar um banho. “Maldição fedida! – é muito pior dentro do banheiro!” – reclamou torcendo o nariz.
A irmã mais nova chegou dez para as sete da noite.
- “Rê”, você tá ai? Chegou? Quero falar com você...
Gritou a outra do banheiro: “já saio”.
Minutos depois, saiu Renata secando os cabelos, vestida com um jeans desbotado, muito diferente das roupas que costumava vestir compulsoriamente para trabalhar.
- Oi... Quero falar com você ( disse Tininha, sem graça, meio que se encolhendo e quase desistindo...)
- A respeito de quê?
- Quando completar os dezoito vou embora. Isto significa que estou por aqui por mais uns três meses.
Perplexa, Renata puxou a toalha para cima do colo e deixou os cabelos úmidos escorregarem pelo rosto num caos de nós. Ana Cristina – “Tininha” – continuou...
- Você tem a sua vida. Eu quero ter a minha liberdade. Sair quando eu quiser, voltar quando eu quiser para e de onde me for conveniente. Será ótimo. O seu marido pode até resolver voltar...
Mansa, mantendo a racionalidade, a irmã tentou ponderar levando na brincadeira.
- Neste espírito rebelde percebo uma certa reprovação em relação a minha pobre pessoa... O que fiz meu limão galego?
- Por que teria feito algo? Nem tudo no mundo gira em torno de você! Tenho vida social, sabe? Aqui tenho que seguir as suas regras.
- Perdão! Não queria ofendê-la. O fato é que desde que chegou nunca a vi com um namorado ou uma amiga. A vejo pelos cantos com papéis e fotografias. Quis incentivá-la a escrever e levei um grande fora. Não a conheço, mesmo, Tininha. Você não deixa. Não sei qual pode ser o futuro de alguém que, embora muito crítica, não faz nada para ver o lado bom do mundo e das pessoas que estão à volta. Para quem quer escrever se não entende nem a si própria? Não supera os seus traumas! Dá para entender que no mundo real somos nós que restamos? Que toda a sua ideologia adolescente não preencherá os vazios futuros? Quer ir? Pois vá! Não precisa esperar a maioridade. Não reclamarei a sua falta...
Explosiva, Renata levantou-se e foi juntando algumas roupas da outra espalhadas pelo quarto, atirando-as sobre uma velha cadeira.
- Junte as suas coisas. Amanhã você sai. Por hora, vista-se! Vai comigo dar um recado para o vizinho do andar de cima. E é você quem vai falar com ele! Este será o seu visto de saída: me livrar de um igual seu!
A moça a fitava com um ódio incomum. Foi até o armário para pegar a mochila e ao jogá-la próximo à pilha de roupa, murmurou...
- Quando voltar, arrumo!
Dito, trocou a camiseta da escola rapidamente e se pôs diante da porta aguardando a outra se recompor da súbita ira.
- Subiram. Ficaram de costas uma para a outra cada qual amargando sua história particular de derrotas. Era só um andar e não chegava nunca.
No saguão, o velho conhecido odor estava impregnando as paredes – centímetro por centímetro cúbico de ar... Renata quase vomitou... Tininha fez menção de dizer algo, mas orgulhosa desistiu e fingiu suportar - “E o coroa não reclamou da carniça!” - matutou ...
Loucas para comentar, controlavam-se para não ceder...
- Ali... O apartamento é aquele! Muito “Limpo” disse o porteiro! Deus...
Havia moscas por todos os lados. Zuniam alto... Era difícil de falar sem medo de um desagradável acidente... Renata protegeu a boca e berrou injuriada...
- Claro que a sujeira é daqui! Cretino, porcalhão! Que organização!
Ele não deve ter posto o lixo na lixeira estes dias!
Vamos falar logo, Tininha!
Muito nervosa, Renata se pôs a gritar...
- Seu Juvenal atenda! Atenda! Atenda logo, pelo amor de Deus!
Com a blusa no nariz, a adolescente penalizada com o estado da irmã, a ajudou a bater insistentemente na porta.
- Esse fulano não tá ai, não! O porteiro tá é doidão, Rê... Olha... A campainha não funciona, vamos sair daqui! O velho foi embora e o Adamastor não sabe...
- Vamos, vamos logo... Meus punhos doem. Machuquei na porta...
E desceram até a portaria desesperadas para sair dali.
- Seu Adamastor! Descobrimos de onde vem aquele fedor horrível! Aquele velho maluco deve estar colecionando lixo... Parece miasma de bicho morto... Deve ser resto de comida... Sei lá!
- Calma, dona Renata! Respire!
Ela se sentou, enquanto Tininha regava a vômito as azaléias do jardim...
Três ou quatro moradores que passavam naquele momento ficaram ouvindo. Um rapaz foi atrás do zelador... Outro jurou que viu o seu Juvenal no elevador de manhã cedo...
Em meio a balburdia eis que...
 - Ai... Tininha... Perdi o meu celular... Minha vida está naquela agenda! Deve ter caído no elevador... Lá em cima... Não sei, que droga!
Interveio o Adamastor...
- Espera, Dona Renata! A gente sobe, calma!
E paciente dirigiu-se a menina...
- Melhorou?
- Ai... Pergunte às Azaléias...até que fui forte!
- Temos que subir!
Berrou a mais velha... O porteiro ainda tentou ser gentil...
- Quando eu subir, procuro dona Renata...
- Não, seu Adamastor, subi com ele porque aguardo um telefonema muito importante. Não posso esperar que o zelador chegue para que subam...
- Seu Antônio! Gritou o porteiro – fique aqui para que eu vá apressar o zelador!
O vigia concordou com um gesto. Renata e a irmã subiram. Com elas, a policia que havia sido acionada dez minutos antes para garantir a legalidade na entrada do apartamento. Afinal, o lixo tinha que ser removido. Em seguida, subiram o zelador e o porteiro com as chaves.
- Seu guarda, ele deve guardar o que ai dentro? Perguntou Tininha, pondo outra vez a blusa no nariz, enquanto Renata procurava o celular no chão...
- Achei! Achei!  (Ninguém a ouviu...)
- É minha jovem, não posso afirmar ainda...
Falou o guarda coçando a orelha...
- Achei! O celular! Tininha... Vamos! Ana Cristina não lhe deu atenção...
- É carniça, seu guarda? Insistiu a menina...
- O guarda fez uma expressão de dúvida. O zelador abriu a porta.
Ao escancará-la, a cena que compôs o quadro foi inesperada para alguns dos presentes... Varejeiras, toneladas delas, esvoaçavam sobre o “monte disforme” decompondo-se bem no meio da sala. Um líquido pastoso e quase preto empoçava em volta do cadáver e foi retido de escorrer porta afora, por um capacho grosso, posto um pouco mais à frente do ângulo de abertura da porta.
Paralisados, os quatro viram os policiais isolando o local. Renata desmaiou e precisou ser amparada. Acabou num Pronto Socorro Municipal. A adolescente, ainda impressionada com a cena, ouvia martelando em sua cabeça a sentença - “Seu igual...” E no corredor, aguardando a alta de Renata junto com o porteiro Adamastor, ela teve a impressão de ter ouvido alguém dizer...

“Uma palavra muda tudo... mas é certo acrescentar que, um bom ouvido, muda muito mais!”


Conceitos e verdades pétreas foram fissuradas e se desfizeram em fragmentos no mais absoluto silencio dos dias. Nem uma nem outra, a partir dali, esqueceu a dura lição daquele final de abril. As roupas voltaram para as gavetas e, os escritos, saíram delas...




terça-feira, 20 de setembro de 2011

Uma palavra ( 2ªparte )

Toques...



O cansaço fez Renata adormecer profundamente aquela noite. Dormiu até sábado à tarde e, ao acordar, Tininha havia fugido para seus mundos paralelos e misteriosos.

Dois dias mais tarde eram outros os ares...

Madrugada. O telefone tocou em algum apartamento vizinho. As irmãs não definiram onde. Tocou tantas vezes quantas foram as que começaram a adormecer. Um chamado redundante a atingir pontos nevrálgicos do humor já decadente: o ruído e o odor juntos eram demais! Tininha irritou-se. Sentada à beira da cama buscou sobre a cômoda alguns escritos esquecidos. Renata, também se inquietou com a situação.
– Por que não dorme? Está pensando na morte da bezerra ou está sufocada com este cheiro maldito, como eu?!
- Os três! Esqueceu desse telefone que não para? Procurei pelo apartamento inteiro. O fedor parece estar concentrado no banheiro. Lavei tudo. Abri o vitrô que dá para a ventilação e nada. Uma noite muito quente, tudo fechado por causa da tempestade e do vento e nós aqui, a cozinhar por dentro!
- É. Vou falar com o zelador amanhã cedo. Está piorando cada dia que passa. Deve ser a fossa, apesar de parecer... ( e deu uma aspirada no ar...) Sei lá! Bicho morto? Nem isso! Não identifico... Só sei que é horrível!
Tininha sorriu sem ânimo...
- Estou começando a passar mal com ele. Enfim, veja com o zelador porque o problema é lá fora.
Dito, voltou a concentrar-se nas folhas que reescrevia atenciosamente.
Renata notou a dedicação...
- É uma pesquisa?
- Hein?
- Perguntei se é uma pesquisa?
- Algumas anotações. Coisas pouco importantes. Tenho as ideias e as escrevo. É isso.
A mais velha ficou interessada...
- “É isso”... É muito legal que escreva o que sente! Poderá publicar mais tarde! Se um dia permitir quero ler...
A outra a olhou sem emoção. O elogio não surtira efeito e, decepcionada, Renata ainda tentou...
- Este incidente noturno nos trouxe insônia. O que acha de compartilhar comigo aquelas rosquinhas que comprei na padaria com uma boa xícara de chá quente de camomila?
A moça mudou de fisionomia. Transfigurou-se. Partiu da severidade rústica à sátira requintada...
- Compartilho as “experiências”, as “vivencias”, por que não um “lanchinho” fora de hora?
Sem graça, a irmã calou. Baixou a cabeça sem entender a atitude tão agressiva. Engoliu em seco para não criar mais confusão. Simplesmente, puxou com delicadeza a ponta do lençol, ajeitou o travesseiro e deitou com a convicção de que superaria aqueles momentos difíceis.
Tininha percebeu a manobra, sentiu-se mau. Sua grosseria havia ultrapassado os limites. Arrependeu-se. Mas, tarde demais.
Às sete horas da manhã seguinte, a irmã mais velha, de olhos fundos e escurecidos, levantou-se. Sem olhar para os lados se vestiu e foi à zeladoria protestar contra o miasma que empestava o seu apartamento. Em razão da briga, sentia um imenso vazio. A sensação de uma derrota a qual não queria revanche. Não quis, no entanto, ficar remoendo mágoa. Fez um esforço para esquecer o ocorrido, concentrando-se na resolução prática de um real problema: o cheiro. Na portaria soube que outros moradores reclamaram do mesmo.
-Olá dona Renata! A senhora tem visto o seu Juvêncio? Preciso entregar-lhe umas correspondências.
-Não o vejo há uns cinco dias. Será que viajou? Ele é tão antipático, discute com todo mundo a troco de nada, dá até medo de dizer “Bom dia”! Semana passada o vi no elevador. Cumprimentei. Sabe o que fez? Disse “péssimo dia, minha senhora. Se soubesse que a encontraria não teria descido agora!”
- Nossa! O que ele tem contra a senhora?
- Pensei nisso o resto do dia. Fiquei sem fala! Ele desceu aqui no térreo e eu fui parar no subsolo! Tive que subir de novo...
( o homem sorriu meio desconsertado...)
- A senhora ri, Dona Renata?! Ele é doido!
- Não vou chorar, seu Adamastor... Ele deve ter os motivos dele para me detestar tanto.
O porteiro meneou a cabeça ao ver o jeito da moça. Apressada, ela finalizou...
- Bem, se o vir dou uma de cara de pau e peço para que desça...
- Tá bom...tchau, dona Renata!
- Tchau! Vou à farmácia rapidinho, o senhor pode chamar um táxi enquanto estou fazendo a compra do remédio? É muito ruim ficar sem carro!
- Claro!
- Obrigada, seu Adamastor!
Ela atravessou correndo a rua. Era um mar de prédios e a ilha, uma pequena e esmagada praça onde as crianças disputavam o mísero espaço com os seus tico-ticos e baldes de areia. Umas três árvores contavam a história da mata que cobria a região. As outras cinco eram “importadas” e gozavam de muito mais atenção e cuidados por parte dos moradores.
A farmácia ficava na subida, há duas quadras do prédio.
- Bom dia, Evair!
- Bom dia, querida Renata! O que encomendou está embrulhado e é só passar no caixa!
- Obrigada! Estou voando hoje...
- Ah... Se você encontrar o velho Juvêncio diga a ele que o remédio que encomendou chegou ontem!
- Deus! Você é o segundo que me pede para falar com o vizinho mais antissocial do mundo! Ele me odeia...
- O rapaz riu com gosto...
- Impressão sua, “Re”... ele odeia a todos nós! Talvez, até a ele mesmo.
- O porteiro tem correspondências e o senhor remédio... Tudo bem, passo no andar do mau amado para visitá-lo! Não me custará subir até o quinto, quem sabe ele perceba que “sou uma garota legal”!
Ambos gargalharam e ela, atrasadíssima, foi enfrentar mais uma de suas batalhas. Antes, finalizou mentalizando os humores da irmã...
- Ah... só espero que essa não seja apenas uma amostra do que será o meu dia!


( continua )

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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Uma Palavra (1ª Parte)

  Estradas...

In: Sete Contos para o Final da Tarde.


- O que me incomoda não é o que dizem, Renata! É o que omitem descaradamente... homens, mulheres que imitam o “pior” dos homens. É uma festa de mau-gosto e não quero ir...
A irmã a ouvia atenta e reflexiva. Esperou um breve instante para antes definir a fala. Depois, com muito jeito, tentou convence-la a livrar-se do cárcere o qual se meteu e não tinha intenções de sair.
- Compreendo que não goste de algumas “figuras” com as quais trabalho. São chatas, mesmo. O mundo das mercadorias é este – para vender é preciso deixar com que as pessoas acreditem nos milagres humanos da manipulação química. Sou publicitária. E iniciante! Tenho uma super chance e preciso ir... e achar “graça” quando o gerente da indústria de sabonetes “hidratantes” Eureca se desfaz das coitadas que caem na “nossa” lábia - que seja a meu contragosto! Vendemos ilusões para sobreviver. Esta é a nossa época. Da imagem e mensagem capitalista. Esta é nossa base real. Além do mais, você compra todos esses produtos. Como reclamar?
- Sei que compro! Talvez, faça parte do grupo de mulheres que sonham em algum dia, encontrar honestidade em rótulos e imagens...
- E existe, sim. Eu é que não tive sorte de trabalhar com a gente certa. Terei. Por enquanto, preciso “suportar” pelo aluguel, etc., etc., etc., que você bem sabe.
Renata sorriu e continuou carinhosa.
- A sua experiência anterior sei que não foi das melhores, devo admitir. Tome um sal de frutas, fique longe de certas “criaturas abomináveis” e aproveite as delícias do bufê. Veja o lado positivo das coisas! A comida e a bebida são sempre dez!
- Fui na sua e fiquei mais tensa! Não entende que prefiro ficar por aqui?
- Pare de pensar no que passou! Este passado é rançoso... Saia da gaiola vá, maninha! Alguém diferente, não ligado àquele “grupinho” pode estar pensando numa bela companhia como você para suportar a turminha do “falso poder”!
- A luta pelo poder pode ser mais baixa do que a pela ânsia da riqueza... essa gente é pequena, mesmo! Gravita em torno para na primeira bobeada tornar-se o centro. Aponta e alvo! Você já era!
- Ai, socorro! Eu desisto! Cansei. Ok, eu vou sozinha. Vou enfrentar os meus colegas na arena cotidiana das idéias por que isto, a inteligência e o conhecimento, ninguém pode tirar de mim. Acredite, posso ser omissa, mas não sou parasita!
Conformada, a irmã mais velha beijou a rebelde na testa, pegou a bolsa e deteve-se repentinamente:
- Ah! A propósito, dá uma limpadela no “ap”, tá? Estou sentindo um leve cheiro suspeito, pode ser algum “lixinho” esquecido por ai...
E saiu sem olhar, batendo a porta atrás de si.
A adolescente respirou fundo. Suas feições leves denunciavam a pouca idade. Seu gênio explosivo... Só confirmava!
Ficou estirada sobre a cama de olhos fixos no teto. Nele, a grande tela branca parecia ter projetada a estrada onde viajava aquela fatídica noite. A faixa contínua; os faróis vencendo o breu; o vento do lado de fora sacudindo tudo; o automóvel que surgiu do “nada”, na contramão. Faria um ano. E sequer disse “adeus” aos seus pais. Aquilo ainda lhe parecia ser impossível! Sacudiu a cabeça como se pudesse livrar das imagens medonhas que a atormentavam. Conteve as lágrimas e acabou por fixar os olhos num porta-retrato, onde cinco anos mais moça, a irmã sorria com jeito inocente e despreocupado. Pensou sufocada pelas culpas que precisava ter paciência com Renata... Repetia para si, em voz baixa, ao se lembrar do sacrifício da irmã em ajuda-la a vencer os traumas. Muito ela havia abdicado para adaptar as suas vidas... Até o marido a abandonou! Reconhecia... e relembrava: “Seis meses depois ele berrou alto e em bom tom: Tininha sai! E um triunfante som vibrou pelos quatro cantos – Tininha fica!”.
Quebrada a tensão, sorriu da cena e rolou na cama pondo-se de barriga para baixo. Entristeceu. Voltou ao presente. O resultado era que estava ali morrendo de vontade de fugir. Ficou por uns vinte minutos meditando nos contratempos: “que sacanagem com a Renata!”
Acordou de suas meditações quando um leve odor muito estranho a fez levantar para dar uma geral, pelo menos no banheiro e na cozinha.
Às 19 horas estava marcado o bufê. Renata voltou do trabalho para a casa mais cedo. Arrumou-se. Fez os seus apelos finais à Tininha que permaneceu irredutível.
- Limpou como pedi?
- Sim.
- Que cheiro esquisito... (Continuou...)
- Não descobri nenhum lixo esquecido.
- Vou indo. Depois penso nisso.
- Aproveite!
- Decerto, minha cara! Prometo que comerei a sua parte e se vir um homem bonito e interessante não me lembrarei que preferiu ficar só.
- Tchau, sua pestinha!
- Tchau, Tininha!
A garota ficou observando a porta sendo trancada pelo lado de fora. Voltou a sentir-se um tanto deprimida. Contudo, o que ainda desconhecia era que, enquanto a outra precisava enfrentar os Outros, ela teria que enfrentar Um inimigo bem mais perigoso  pois, próximo e tão desconhecido...





Continua na próxima postagem...


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Visitem um escritor apaixonante:

http://ruisilva.bubok.pt/

Um blogue simplesmente incrível:

http://miastoizamekmalbork.blogspot.com/2011/09/1-pierwsze-wrazenia.html?showComment=1315757344867#c1876879695019081888

Culturas e gentes diferentes ( muito legal!):

http://oldgoths.blogspot.com/

http://saamiblog.blogspot.com/

Alguém que faz sempre muito bem:

http://ericocordeiro.blogspot.com/2010/08/confesso-que-ouvi.html

http://pintandomusica.blogspot.com/

http://hiphoprapjazz.blogspot.com/

http://famousalbumcovers.blogspot.com/

Veja o livro Pleno Verbo:

http://coracaoentrepalavras.blogspot.com/


Site da imagem:

http://marcinho.posterous.com/estradas-bonitas-porem-da-um-cacaco-viajar-ne

domingo, 11 de setembro de 2011

Dom Quixote das causas perdidas.


 Do outro lado da porta (Vale do Flegetonte) - 2011 - Fênix


Moinhos de gente
Movidos a sangue.
Quem se ressente
Desse Inferno de Dante?

Quem percebe a perda do instante?
A ausência da fé e dos sonhos de antes?
Abaixo das janelas:
Cadeados e sentinelas.

Nada de donzelas na rua
De beijos ardentes sob o fogo da Lua...
Nada.

Nada de Jardins nas praças
De amigos, canções...suspiros quando se passa...
A humanidade cava o próprio esquecimento.

 






Visitem para ter um pouco de doçura!!!( Já que por aqui a coisa anda Diet...




http://pt.wikipedia.org/wiki/Dom_Quixote

http://pt.wikipedia.org/wiki/Inferno_%28Divina_Com%C3%A9dia%29


E repitam por ai...
Scrapsonline.com.br

Confira mais figuras de Crianças no www.scrapsonline.com.br

http://www.scrapsonline.com.br/categoria.php?cod_categoria=45 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Jardim das Orquídeas

 Jardim das Orquídeas, 2011 - foto/edição Fênix

  Jardim das Orquídeas II, 2011 - foto- Fênix

  Jardim das Orquídeas III, 2011 - foto/edição Fênix

  Jardim das Orquídeas IV, 2011 - foto/edição Fênix

  Jardim das Orquídeas V, 2011 - foto/edição Fênix

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