"(...) -Como eu gosto de você?

Eu gosto de você do jeito que você se gosta".

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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Orfeu e Eurídice e a crônica do amor e do inferno II



 ( parte 4)

Orfeu e o Outro: as correntes eróticas e afetivas em Freud.


"Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para o seu próprio coração. Quem olha fora sonha; quem olha para dentro, desperta."
 
Carl Gustav Jung

Eurídice se descobre. Percebe a própria existência, além da de seu arrebatador Orfeu. O Outro abismado com a sua beleza/figurativa (o desejo erótico) mostra-lhe a capacidade de encantar/existir. E seu Orfeu? O que ele sentiria por ela?
Alguns artigos muito bem fundamentados* falam a respeito dos estudos de Freud acerca das características que determinam a escolha da pessoa amada. Apontam os conflitos que ocorrem entre a capacidade de amar e de desejar sexualmente, o mesmo objeto. Essa dificil tarefa de equilibrar as correntes eróticas e afetivas, adequadamente, requer que se vençam os fantasmas incestuosos da infância ( a interdição do incesto-o primeiro amor é o de mãe e é sagrado, portanto, todo amor teria interdição). O desejo sexual dedica-se às amantes e, o amor, à esposa, o que inviabiliza os relacionamentos. A incompletude não se faz por meio do" desgaste" ou da "rotina" externa, mas do "desgaste" e da "rotina" que são estimulados pela incapacidade interna de se vencer essa separação entre o desejo erótico e o amor afetivo. Os homens com esse conflito, destaca o estudo, quando amam não desejam e se desejam, não amam ( impotência psíquica).
Eurídice ama em Orfeu o que gostaria de Ser (sedução/talento/arma). Mas, ela se descobriu, descobriu o seu próprio Ser no mergulho para a morte: deixou o arrebatamento ou, seu estado de Ser seduzido.
E qual não foi a surpresa de Orfeu, habituado à sua linguagem manipuladora - voz e lira -, argumentos da emoção?
Razão, emoção, erotismo, amor...venha comigo. Venha mergulhar como Eurídice nas florestas densas da morte, a fim de experimentar a ressurreição...
Continua...
Fênix Cruz


*****

Orfeu e Eurídice e a crônica do amor e do inferno ( parte 5)

No inferno de nós mesmos: rejeição (dilaceramento) ou aceitação (ressurreição)?

Orfeu. Esse sentimento contraditório que se faz pela perda (inconsciente) ao mesmo tempo que se dilacera com ela, traduz o medo de ceder parte de si ao Outro, como se num mergulho profundo para a morte do Eu Absoluto. Querer e não querer. Temer o comprometimento e a verdade de já não se estar mais só e sim, ligado a outro querer. Como será para esse novo Ser que antes, escolhia só a direção de seus passos? QUE CONDUZIA TUDO? Dava a palavra inicial e final?
Eurifice foge. Ela não sucumbe ao Outro, apenas se descobre e descobre um novo Orfeu: um igual na diferença. Ela ama aquilo que ele é, mesmo que revelada a face dele pois, o arrebatado se deixa arrebatar, não sendo o arrebatador culpado pelo arrebatamento: vemos o que queremos ver. Nos iludimos com o que queremos nos iludir: eu nunca serei o Outro, devo então, seguir os meus caminhos.

E seguir, sem olhar para trás?

Quem você é: Orfeu ou Eurídice?

...não desista.

Não desista de mim, nem de si, nem de nós. Cuidado com os ruidos!

Fenix Fênix Cruz
Continua...

*****


Orfeu e Eurídice e a crônica do amor e do inferno ( parte 6)

Para quem nos quer arrancar os braços, não devemos oferecer as mãos: as mênades/bacantes.

A melancolia de Orfeu se traduz em seu fracasso. Na culpa pela perda de Euridice a lhe consumir dia-após- dia: a contínua queda.
Orfeu, em sua fragilidade e dor, já sem a convicção exagerada em si e sem Euridice, caminha para o oposto radical e se torna um ser atormentado. De guarda baixa, atrai para si toda sorte de problemas, atrai o desejo das Mênades ou, das bacantes. Desse mundo passageiro - o da mera satisfação no ato sexual -, tudo busca e a nada se apega. Apenas se desloca de um objeto de desejo para outro e nada preenche e satisfaz. Ele é um corpo sem alma. Um corpo vazio. O amor cultuado à morta (o rosto que não é o seu) e a apatia de Orfeu provocam o ruído: "se não posso ter destruo". E assim, as mênades vão lhe despedaçando parte por parte aproveitando-se de sua debilidade, de sua incapacidade de vencer o ruído provocado por elas, escoladas e experientes que são.
Uma a uma...Elas pediram e Orfeu ofereceu as mãos. Religiosamente cumpriu os seus rituais e cada vez mais sentiu-se sem solo. Sugado em suas energias. Aparentemente submissas, não aceitam a rejeição, embora estejam cientes de que nada lhe representam.
O ruído se contrapôs à canção.
As mênades surgem nos momentos em que a ferida escancarada sangra e o lago de Narciso torna-se o espelho que o chama e engole -pulsão de morte. É quando Orfeu se debate. Agoniza. Não compreende...
Intimamente, é um mergulho para ela...

Por quê?
Fenix Fênix Fênix Cruz

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