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O Mundo no Engenho... e o ENGENHO do Mundo

terça-feira, 2 de novembro de 2010

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: REFLEXÕES, REALIDADE E PRÁXIS.


Foto: Bananal, Fênix, 1995.

(Fênix Cruz, ainda DO Buraco – aproveitando uma luz piscante...)

O debate a respeito da sustentabilidade vem sendo travado há alguns anos na arena política e empresarial internacional, logo constatadas as primeiras crises decorrentes da degradação ambiental e o iminente colapso dos ecossistemas e da humanidade. Como resultado deles, em 1983, a COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO contando com 23 países membros, produziu um documento muito importante(1) que definiu com maior clareza o conceito até então pouco preciso de Desenvolvimento sustentável. Este passou a não só integrar todas as discussões por vir, como a permitir novos questionamentos e a expansão de outros conceitos tais como os de pegada ecológica; segurança ambiental global e overshoot. O Desenvolvimento sustentável pode ser compreendido, de acordo com documento expedido pela Comissão(2), como sendo:

(...) aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades.

A definição de Pegada ecológica pode ser um instrumento vital de avaliação dos impactos antrópicos ao meio ambiente, ao estimar matematicamente a quantidade e qualidade de terras e mar produtivos necessários para a manutenção da vida no planeta, fornecendo os dados sobre os recursos eqüitativamente computados “per capita” versus a capacidade de regeneração e / ou reprodução dos ecossistemas(3). Deste modo, a pegada é o impacto cada vez mais acelerado na escala do tempo/espaço causado pela ação humana sobre o meio ambiente global/local. Escassos os próprios recursos, os países recorrem aos dos em “desenvolvimento” utilizando-se de diversas estratégias diretas e indiretas ( créditos de Carbono). Surgindo disto, o termo overshoot, relacionado à degradação do capital natural ou à quantidade do déficit ecológico local(4) cujos países tentam sanar importando recursos sem a preocupação de contribuir com práticas ecológicas que possam fragilizar suas economias.

Ele (overshoot) ocorre quando o consumo humano e a produção de resíduos excedem a capacidade do planeta em criar novos recursos e absorver os resíduos.

Em outras palavras, de acordo com esta definição de CIDIN & SILVA, é a manutenção da idéia de natureza como mercadoria e de uso descartável que permeia as relações dos séculos XX e XXI.
Finalmente, o conceito de segurança ambiental global refere-se à estratégias de unidade política internacional na prevenção e reparação dos processos de degradação(5) intensificados ao longo do desenvolvimento de uma economia e crescimento fundamentados na exploração e desperdício de recursos naturais renováveis e não renováveis. Apesar do reconhecimento da gravidade do problema, os negociadores dos diversos países acabam por salvaguardar os interesses nacionais, sendo as preocupações ambientais divulgadas, mas encaminhadas de modo a prevalecer as vantagens econômicas e políticas que cada país passa auferir(6) na banca de negociações.
Enquanto cada qual monta o seu discurso e justificativa a fim de manter o mesmo status de poder e consumo, a materialização da ação humana praticada pelos agentes que detêm os meios de produção constrói em igual proporção à degradação ambiental, paisagens de misérias. Miséria humana e miséria ambiental. A maior parte da humanidade sofre as privações dos recursos e dos benefícios tecnológicos gerados pelos mesmos, desde que foi subjetivada como “natural” a posse dos meios de produção e dos excedentes produzidos, por um pequeno grupo que se metamorfoseia no decorrer da história da humanidade, explorando também o trabalho humano. No atual modo de produção os não privilegiados no sistema ficam fora da partilha ditada pelo capital. Sem os recursos e o reconhecimento adequados dessa natureza a qual dependem mais rejeitam, os explorados negam a si reproduzindo os erros da classe dominante em que se espelham, sendo vítimas das práticas predatórias dela e de si mesmas( mimese ). Assim são os reflexos dessa miséria humana:

(...) conforme wackernagel & Rees (1995), de acordo com as estatísticas das Nações Unidas, cerca de 1,1 bilhão de pessoas vive em extrema riqueza e consome por volta de ¾ dos recursos do mundo ,isto é, precisa mais do que a capacidade do planeta pode suportar; ao passo que a população restante, cerca de 80%, sobrevive com ¼ dos recursos. Isso tudo sem considerar que as futuras gerações precisarão dos mesmos recursos existentes hoje para sobreviverem, assim com as outras espécies(7).

A lógica Cartesiana e a apropriação do discurso de Malthus pela elite com a intenção de explicar a miséria e os perigos do crescimento populacional, seguindo aos interesses dominantes e somados ao Darwinismo Social (Spencer), ajudaram a formar a mentalidade predominante onde se externaliza e compartimenta as Ciências, a Natureza, o Humano(8). O trabalhador alienado e coisificado, ou a África – esquecida sempre que não “necessária” – são as variantes com destino comum nesta porcentagem em desvantagem, HOJE. Em teoria teriam o dever/direito de cuidar e participar do que fosse extraído ou gerado a partir dos recursos, dentro do contexto de cada discussão, pois originalmente, a Natureza é de ninguém e é de todos, afinal, toda a vida sofrerá as conseqüências decorrentes do desequilíbrio e da ameaça crônica de escassez aceleradas pelos outros 20%...
Os objetivos do Desenvolvimento Sustentável e Social dentro da visão de sustentabilidade exige uma transformação na forma de atingirmos o progresso econômico e o modo de pensarmos a sociedade(9). A ética da sustentabilidade requer que se atente para a eqüidade no trato e na distribuição dos recursos, o que como vimos não vem ocorrendo já que a minoria no topo da escala social permanece a exceder exageradamente no uso dos recursos materiais e energéticos. Esta desigualdade, embora seja pontuada nos documentos oficiais como sendo fator de mudança a ser atingido, efetivamente, o modelo padrão de desenvolvimento econômico “linear”, “progressivo” e “utilitário” embasado nos pilares da mentalidade mercadológica capitalista não é confrontado. É o caso do NOSSO FUTURO COMUM, onde essa “velha” lógica permanece inabalável. Se o simples crescimento econômico não basta, conforme a COMISSÃO, tendo que se harmonizar o crescimento demográfico à oferta do potencial produtivo do ecossistema, quem abrirá mão neste jogo de palavras será novamente a população mais carente, convidada ao controle vegetativo e à divisão dos poucos recursos existentes em seus países, com aqueles mesmos velhos colonialistas e imperialistas que lhes espoliaram no passado...
Da realidade à práxis o abismo escamoteado pela névoa da retórica disfarça interesses e conduz à inércia de ações sociais, políticas e econômicas revolucionárias. O futuro comum - de interesse comum, como é alardeado -, ditado pelos países hegemônicos economicamente, ainda tem o tom do neoliberalismo excludente, o que o faz contraditório neste propósito. E, como alerta ESCOBAR: o  Desenvolvimento Sustentável defendido por essas organizações, outra vez se faz, por meio da mão benevolente do ocidente a salvar a Terra (10)...
Se for assim, quando a astúcia busca subjugar, então, qual “futuro comum?”

Notas

1 - RIBEIRO. Wagner Costa. Desenvolvimento sustentável e segurança global.  Biblio3W, Revista Bibliográfica de Geografia y Ciências Sociales, Universidad de Barcelona, vol VI, no. 312, 2001, p.1-10, http://www.ub.es/geocrit/b3w-321.htm
2 -COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD). Nosso Futuro Comum.Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,1988.
3 - CIDIN. Renata da C. P. James. SILVA.Ricardo Siloto da. A pegada ecológica em relação ao homem, à natureza e à cidade. Universidade Federal de São Carlos, s/d. catitos@terra.com.br
4 -Idem.
5 - RIBEIRO. Wagner Costa. Idem. p 1 –10.
6 -Idem.
7 - CIDIN. Renata da C. P. James. SILVA.Ricardo Siloto da. A pegada ecológica em relação ao homem, à natureza e à cidade. Universidade Federal de São Carlos, s/d. catitos@terra.com.br
8 - LEFF. Enrique. Saber Ambiental – sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Editora Vozes: Petrópolis, 2001, p.42-55.
9 - COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD). Nosso Futuro Comum.Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,1988.
10 - RIBEIRO. Wagner Costa. Ecologia Política: ativismo com rigor acadêmico. Biblio3W, Revista Bibliográfica.

BIBLIOGRAFIA

CIDIN. Renata da C. P. James. SILVA.Ricardo Siloto da. A pegada ecológica em relação ao homem, à natureza e à cidade. Universidade Federal de São Carlos, s/d. catitos@terra.com.br
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD). Nosso Futuro Comum.Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,1988.
HOBBES. Thomas. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
LEFEBVRE. Henri. Lógica formal/lógica Dialética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.
LEFF. Enrique. Saber Ambiental – sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Editora Vozes: Petrópolis, 2001, p.42-55.
OLIVEIRA. Ana Maria Soares de. Relação Homem Natureza no Modo de Produção Capitalista. In Revista Pegada Ecológica eletrônica, Volume 3, número especial, www2.prudente.unesp.Br/ceget/pegada/pegesp10.htm
RIBEIRO. Wagner Costa. Desenvolvimento sustentável e segurança global. Biblio3W, Revista Bibliográfica de Geografia y Ciências Sociales, Universidad de Barcelona, vol VI, no. 312, 2001, p.1-10, http://www.ub.es/geocrit/b3w-321.htm
RIBEIRO. Wagner Costa. Ecologia Política: ativismo com rigor acadêmico. Biblio3W, Revista Bibliográfica de Geografia y Ciências Sociales, Universidad de Barcelona, vol VII, no. 364, 2002, p.1-20, http://www.ub.es/geocrit/b3w-364.htm
ROUSSEAU. Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987-88.
SMITH. N. Desenvolvimento Desigual. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1987.


Agradecemos a paciência de quem ficou para compartilhar que, em breve, estaremos retornando! Antes que o sinal que ( ainda )não está estável caia, um grande abraço!

2 comentários:

stenberga stone art disse...

Keep up the good work.. I belive in you..It feels nice inside to read you`r words...We cant eat money!!
Greatings from Sweden.

cassini disse...

es un placer seguir tus trabajos !

un abrazo

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